terça-feira, 17 de julho de 2012

Image::Lara Swift
Image :: Paul Von Borax



● Cortaram-me o riso e destinaram-no às piores feras do mundo.
Por dias pranteei, cambaleei a esmo, sangrando vísceras inocentes.


Eras após, sob a superfície límpida de um regato, ouvi-me gargalhar
feito um bicho: ganhara paisagens na pele e uma voz felina tatuara
marfim e âmbar às afiadas presas.


Na água, refletido, um animal de carnagem inconcebível sorria e se
sabia: exclusivamente meu ●




/ lilly falcão, in 'metamorfose' /
Image :: Charlotte Spetallen



• dormitava auroras
nua em pedra
e errava
- por querência -
a cartografia
dos homens


flertava com os mapas
das águas
e das ventanias
mais complexas


em sua bravura
de sereia
ornava-se de brumas
de lenhos e arvoredos
onde ninhos
surgiam-lhe felpudos de sois
e lãs febris
de horizontes


desse chafurdar no limbo
logrou despir-se de gente
- seiva-arrebol! -
sabia-se plâncton
basalto, âmbar
e cinzas


então assombrou-se
em fogo e quase lava
escorreu-se ávida
peregrinando
oceanos


: adejou-se rubra
[ flor-mamífera-ave!]
a burilar o magma
onde a vida
goza •



/ lilly falcão: do.rubro.magma.das.ovelhas /

segunda-feira, 16 de julho de 2012

[imagem by geoffroy demarchet]



● mais das vezes
vem um mote cru
não o poema


noutras tantas
uma imagem dança muda
não o poema


dentro de uma canção
as palavras bailam nuas
não o poema


ser sangue sal salitre
sol seiva suor e só
não o poema


e essa fome? e essa janela
que só anoitece anoitece
anoitece ●


[ lilly falcão, in 'na.fila.do.pão' ]









● ardem no tempo
as palavras não ditas
os silêncios perdidos
: labaredas e cinzas
consumindo veias
- lavas em remoinho
no mármore dos pulsos


[ sou toda lenha
vereda, brasa, núcleo,
incandescente vastidão]


: queimo em sangue
- sangro em carvão ●



[ lilly falcão, in 'ar.dor' ]

Um pouco de Char, René





" A intensidade é silenciosa. A sua imagem não.
(Amo quem me ofusca e acentua depois
a escuridão dentro de mim ).


RENÉ CHAR

Algo de Alejandra

"Oxalá, pudesse viver somente em êxtase, fazendo o corpo do poema como meu próprio corpo, resgatando cada frase com meus dias e minhas semanas, fundindo no poema o meu sopro à medida que cada letra de cada palavra tenha sido sacrificada nas cerimônias do viver."






{ Alexandra Pizarnik }